terça-feira, 27 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
domingo, 11 de dezembro de 2011
Bolsa-enchente de Kassab não garante nova moradia
Escrito em 13 DE JANEIRO DE 2010, às 09:58
Laura Capriglione, da Folha de S.Paulo
Solange Ferreira Bispo, 38, é diarista. Mulher de Nelson, doente psiquiátrico, cabe a ela conseguir os R$ 200 mensais que sustentam a família de sete pessoas. A filha de 15 anos está grávida -em um mês serão 8 pessoas. Faz uma semana que Solange não vai ao trabalho. Em vez disso, bate pernas no Jardim Pantanal. O objetivo: encontrar uma casa para alugar por R$ 300. Não acha.
“Família grande, crianças pequenas, sem renda, sem carteira assinada. Ninguém aceita”, Solange admite.
A casa atual da diarista tem quatro cômodos. Fica na viela Aimoré, no meio da qual corre um afluente do rio Tietê. As fortes chuvas que atingem a zona leste de São Paulo fizeram o córrego engordar e invadir casas. Funcionários da prefeitura percorrem todos os dias o local, tentando convencer as famílias a sair de lá, em troca do que chamam de “auxílio aluguel” de R$ 300 mensais. Solange até queria pôr as mãos no cheque de R$ 2.000 (seis meses de R$ 300, mais R$ 200 de mudança). Mas não dá.
Na várzea do Tietê conhecida por Jardim Pantanal, prefeitura e governo do Estado querem criar um parque onde hoje há casas e, assim, diz-se, resolver o drama das enchentes.
Segundo o subprefeito de São Miguel, Milton Persoli, cerca de 500 famílias já teriam concordado em deixar suas casas -300 foram para conjuntos habitacionais; 200 aceitaram receber o bolsa-enchente.
“O problema é que aconteceu uma inflação miserável. Com muita gente procurando casa para alugar, o quarto e cozinha que custava R$ 250 agora não sai por menos de R$ 400″, diz o proprietário de uma imobiliária do bairro.
Segundo Persoli, os R$ 300 foram fixados com base em pesquisa de preços na região. Ele mesmo admite, contudo, que os valores do aluguel subiram: “O jeito é as famílias procurarem mais longe.”
Avisado pela prefeitura de que não poderia continuar em sua casa, o pedreiro Silvio Varotto, 42, saiu em busca de outra para alugar. Hoje, ele vive com a mulher e três filhos em uma construção com dois quartos, cozinha, banheiro e área de serviço na viela dos Peixes (inundada de água fétida).
Até achou. “Peguei o cheque da prefeitura e fui fechar o contrato com a proprietária. Mas foi só eu dizer que o dinheiro viria do bolsa-aluguel e a mulher disse que um parente ia ocupar o imóvel. Descobri que ninguém confia em que a prefeitura vá continuar pagando depois do primeiro cheque.” O subprefeito garante que pagará “até quando for necessário”.
No Jardim Noêmia, Neuza Aguiar dos Santos conseguiu mudar-se com as duas filhas para a casa de um tio. “Só ele topou a insegurança da situação.”
Segundo o líder comunitário Cristóvão de Oliveira, 47, principal liderança comunitária da Chácara Três Meninas, outro bairro do Jardim Pantanal, o bolsa-enchente é uma esmola que não resolve o problema de moradia. “Como é possível pretender que as pessoas larguem suas casas em troca de um cheque de R$ 2.000 e de uma declaração de intenções?”
Manifestação na Prefeitura contra as enchentes em São Paulo
No dia 8 de fevereiro 2010 às 14 horas ocorreu na frente da Prefeitura Municipal de São Paulo um ato de protesto pra buscar uma solução ao problema das enchentes na capital paulista. A mobilização foi organizada pelos Movimentos em Defesa dos Moradores Represados na Várzea do Rio Tietê (principais atingidos), Chácara três Meninas, Jardim Romano, Vila Aimoré, Jardim Seabra, Jardim Noêmia e pela CONAM, FACESP, MDM, ou seja, todos os atingidos pelas enchentes e áreas de risco do deslizamento da Cidade de São Paulo.
O ato queria colocar na mesa da administração da cidade cinco pontos que precisam ser resolvidos com urgência:
1-Desassoreamento (limpeza) imediato do Rio Tietê, entre a barragem da Penha até Itaquaquecetuba;
2-Abertura total e ininterrupta da Barragem da Penha até o fim do REPRESAMENTO;
3-Indenização dos móveis e utensílios domésticos;
4-Abertura imediata de uma mesa de diálogo entre Estado/Prefeitura/Câmara Municipal/ Defensoria Pública e Movimentos Populares;
5-Política Habitacional (uma casa por outra casa) nos lugares de despejo;
Os moradores foram ao Viaduto do Chá para reclamar os seus direitos: direito à moradia digna, a indenização, a assistência social, a saúde e principalmente ser tratados como seres humanos e cidadãos o que não está acontecendo. O que realmente esta acontecendo nas áreas das enchentes é uma verdadeira tragédia. Famílias que estão sofrendo a 60 dias dentro d'água, pessoas que perderam tudo, crianças doentes, risco de epidemia de leptospiroses, água contaminadas, péssimas condições sanitárias e além disso, várias pessoas já morreram por causa da ineficiência do poder público.
A vergonha foi ainda maior quando os moradores foram recebidos pela guarda municipal e pela tropa de choque com spray de pimenta no rosto e cassetete, como se, em frente a todas essas problemáticas, eles não tivessem o direito a reivindicar. Esta ação da polícia quebra um dos principais direitos que deveria ser garantido por um estado democrático: o direito a manifestar-se e querer que seus direitos sejam compridos. Foi justamente o que não aconteceu. Os moradores desesperados foram recebidos como bandidos ameaçados e intimidados pelas mesmas forças de ordem que deveriam protegê-los e ajudá-los. Os moradores não caíram na armadilha: continuaram a manifestar-se do jeito pacífico que eles tiveram desde o início. Frente este tipo de reação da polícia nasce uma pergunta inevitável: será que o poder público quer aproveitar da tragédia e da agonia da população para despejar as comunidades e realizar obras faraônicas como o parque linear do Tietê e o Rodoanel? Será que este tipo de obras serão fundamentais na iminente campanha eleitoral? E será que entre as obras da especulação imobiliária não tem espaço para atender a população carente de baixa renda, pobres, pessoas menos favorecidas? Se o projeto antes era tirar os moradores da favela agora vai ser tirar a favela de baixo dos pés dos moradores. Mas eles não contaram com a luta dos movimentos sociais e a organização do povo. Horas depois das manifestações o poder público juntamente com as principais lideranças formou uma comissão para ser recebida pelo secretário do Prefeito. Na mesa de negociações entre os representantes dos moradores e do poder público o povo teve uma vitória: conseguiu fixar uma audiência com o prefeito Gilberto Kassab. O encontro está marcado para o dia 12/02/2010 (sexta-feira) ás 14 horas, na sede da Prefeitura, irão participar as lideranças populares, os movimentos sociais e alguns parlamentares.
A luta pela moradia não vai parar!
Solidariedade aos moradores atingidos pelas enchentes!
Moradia digna já!
Chuvas em São Paulo
Na Chácara Três Meninas, 400 famílias à deriva
Bairro vizinho ao Jardim Romano foi esquecido pelas autoridades
Carolina Freitas
Moradoras da Chácara Três Meninas sofrem com alagamentos (Guilherme Lara Campos/Fotoarena)
Rivânia Maria dos Santos, dona de casa: “Eu não durmo mais de noite. Eu fico sentada na cama, com medo de a água crescer”
Para o Jardim Romano, uma obra de drenagem de 70,5 milhões de reais. Para a Vila Itaim, a promessa de uma solução para as enchentes até o próximo verão. Para a Chácara Três Meninas, nada. Os três bairros fazem parte de uma mesma região da zona leste de São Paulo, o Jardim Pantanal. O Romano e a Vila Itaim estão na várzea do Rio Tietê, mas o Três Meninas está além, à beira do curso d´água. Com as chuvas de verão, à deriva.
O rio, cheio, corre rápido ao lado das construções. A água, mesmo quando não alaga o bairro, verte do chão dentro das casas. Lá vivem, em meio ao lixo e ao esgoto, cerca de 400 famílias em casas de madeira ou de tijolos sem reboco. A área é invadida. Não há asfalto, saneamento ou energia elétrica.
“Tomamos a luz emprestada dos vizinhos”, diz Maria de Fátima Souza, de 57 anos, que vive de bicos como auxiliar de limpeza. “Vou esperar o que Deus quer. Abandonar minha casa eu não posso. Se eu tivesse dinheiro para pagar aluguel, água e luz, eu não tava aqui.” Há nove anos, ela comprou por 3.500 reais a casa de dois cômodos. Nada lhe falaram sobre os alagamentos e não lhe ocorreu se o imóvel era ou não regular.
Prioridade - O subprefeito de São Miguel Paulista, Milton Persoli, levou um relato sobre a situação no bairro para uma reunião com o Departamento de Águas estadual (DAEE), mas já avisa que o foco de atuação neste verão será outro. “Vila Itaim tem prioridade. A Chácara Três Meninas é uma área de proteção ambiental, é área invadida. É outra situação”, diz, sem apontar soluções. O bairro corre o risco de ser totalmente desapropriado, pois no local o governo estadual criará um parque, para preservar a várzea do Tietê.
Enquanto isso, a situação no bairro piora. Com água suja por todos os lados, crianças estão com febre e feridas nas pernas. “Pedimos para trazer um médico aqui, mas até agora nada”, conta Marcos Roberto Guimarães, de 28 anos, pai de seis. Ele diz não ter interesse no auxílio-aluguel oferecido pela prefeitura. “Nós queremos trocar uma casa por outra. A população quer uma indenização justa que dê para comprar uma casa num lugar digno.”
A dona de casa Rivânia Maria dos Santos, de 57 anos, se recupera de uma cirurgia no intestino. Para chegar até sua cama sem molhar tanto os pés, fez um caminho de tijolos da porta até lá. “Eu não durmo mais de noite. Eu fico sentada na cama, com medo de a água crescer.”
O rio, cheio, corre rápido ao lado das construções. A água, mesmo quando não alaga o bairro, verte do chão dentro das casas. Lá vivem, em meio ao lixo e ao esgoto, cerca de 400 famílias em casas de madeira ou de tijolos sem reboco. A área é invadida. Não há asfalto, saneamento ou energia elétrica.
“Tomamos a luz emprestada dos vizinhos”, diz Maria de Fátima Souza, de 57 anos, que vive de bicos como auxiliar de limpeza. “Vou esperar o que Deus quer. Abandonar minha casa eu não posso. Se eu tivesse dinheiro para pagar aluguel, água e luz, eu não tava aqui.” Há nove anos, ela comprou por 3.500 reais a casa de dois cômodos. Nada lhe falaram sobre os alagamentos e não lhe ocorreu se o imóvel era ou não regular.
Prioridade - O subprefeito de São Miguel Paulista, Milton Persoli, levou um relato sobre a situação no bairro para uma reunião com o Departamento de Águas estadual (DAEE), mas já avisa que o foco de atuação neste verão será outro. “Vila Itaim tem prioridade. A Chácara Três Meninas é uma área de proteção ambiental, é área invadida. É outra situação”, diz, sem apontar soluções. O bairro corre o risco de ser totalmente desapropriado, pois no local o governo estadual criará um parque, para preservar a várzea do Tietê.
Enquanto isso, a situação no bairro piora. Com água suja por todos os lados, crianças estão com febre e feridas nas pernas. “Pedimos para trazer um médico aqui, mas até agora nada”, conta Marcos Roberto Guimarães, de 28 anos, pai de seis. Ele diz não ter interesse no auxílio-aluguel oferecido pela prefeitura. “Nós queremos trocar uma casa por outra. A população quer uma indenização justa que dê para comprar uma casa num lugar digno.”
A dona de casa Rivânia Maria dos Santos, de 57 anos, se recupera de uma cirurgia no intestino. Para chegar até sua cama sem molhar tanto os pés, fez um caminho de tijolos da porta até lá. “Eu não durmo mais de noite. Eu fico sentada na cama, com medo de a água crescer.”
26/04/2010 - 12h30 / Atualizada 14/07/2010 - 17h27
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Após enchente, 17 moradores do Jardim Pantanal dividem um apartamento de 42 m²
Fabiana UchinakaDo UOL Notícias
Em São Paulo
Atualizada às 14h24
O conjunto habitacional Morada das Flores, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, é um lugar calmo, estruturado e, principalmente, seco. Cada unidade conta com dois quartos, uma sala, uma cozinha e um banheiro. Ali, a apenas cinco quilômetros do Jardim Romano, já na zona leste da capital paulista, a água lodosa e contaminada de esgoto não invade as casas nem chega à cintura dos moradores.
O conjunto habitacional Morada das Flores, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, é um lugar calmo, estruturado e, principalmente, seco. Cada unidade conta com dois quartos, uma sala, uma cozinha e um banheiro. Ali, a apenas cinco quilômetros do Jardim Romano, já na zona leste da capital paulista, a água lodosa e contaminada de esgoto não invade as casas nem chega à cintura dos moradores.
À primeira vista, parece um bom lugar para colocar parte das 10.191 famílias que, segundo a Prefeitura de São Paulo, foram cadastradas para serem removidas das áreas que sofreram por mais de quatro meses com os alagamentos. Mas, basta abrir a porta do apartamento 12 do condomínio para descobrir que as moradias oferecidas pelo governo estão longe de ser um bom exemplo de habitação adequada.
Na unidade, de 42,6 metros quadrados, vivem 17 pessoas. São cinco crianças e um bebê recém-nascido, que dormem amontoados nos finos colchões doados pela prefeitura ainda na época das enchentes.
A situação já se estende por dois meses. Elísia Maria Bandeira de Oliveira, moradora do Jardim Pantanal, mudou com a numerosa família para o prédio da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, do governo do Estado) depois que precisou desocupar a escola Heckel Tavares, na Chácara Três Meninas, onde estava abrigada desde 23 de janeiro, dia da segunda grande enchente na zona leste. As férias escolares acabaram e as aulas foram retomadas. Era hora de sair dali com os poucos pertences que não foram levados pelas águas.
“Eu não tenho mais esperanças. Não durmo. E estou num ponto que se juntar muita gente em volta de mim, me dá falta de ar. Olho para os meus netos, para as pessoas que moram aqui em casa e penso: o que será de mim amanhã? Porque não tem de onde tirar. Tudo que temos veio de doações e até isso já esqueceram. Todo o dinheiro que entra aqui vai para fraldas, leite e remédio, porque a prioridade são as crianças”, contou ao UOL Notícias.
- Elísia (c) com os netos e a filha (d); a família divide um apartamento de 42 m² com mais 12 pessoas
- Em janeiro, o subprefeito de São Miguel Paulista, Milton Persoli, foi até a escola onde os moradores estavam abrigados e prometeu resolver a situação
- Desde dezembro do ano passado, a zona leste de SP enfrenta as enchentes e os problemas provocados pelas inundações
Os problemas que Oliveira enfrentou nos últimos meses vão muito além das perdas materiais. Sem os documentos, que foram destruídos pela chuva, a família tem dificuldades para conseguir emprego, escola para as crianças e atendimento médico – reclamação recorrente entre moradores das áreas alagadas, que sofrem com a burocracia para conseguir uma nova identidade.
As infecções e as doenças provocadas pela água contaminada e pela comida estragada também persistem, assim como as idas ao hospital. “Eu, com infecção, corri para o médico com uma filha com leptospirose e outra, grávida, com também infecção. Foram as três para o hospital. Minha filha mais velha teve alta e, dias depois, voltou com hemorragia para dar à luz. Quase teve bebê na escola. E a menina nasceu com infecção nas pernas. Teve má formação dos pés”, lembrou.
A prefeitura reconhece que existem casos em que mais de uma família mora em uma mesma casa a ser derrubada, mas não explicou qual é o procedimento adotado nessas situações. Apenas informou que o cadastro na zona leste foi feito por domicílio e não por número de famílias em cada residência.
Pelos dados da prefeitura, atualmente 3.753 famílias estão recebendo o bolsa-aluguel, benefício de R$ 300 oferecido durante seis meses àqueles que tiveram suas casas derrubadas. Destas, 340 foram levadas para os apartamentos da CDHU em Itaquaquecetuba.
Segundo a companhia, a superlotação na unidade ocupada por 17 pessoas foi causada pela própria família, que está cadastrada como um núcleo composto por três pessoas. "Quando ocorreu a mudança para o conjunto habitacional, mais quatro famílias ocuparam a mesma unidade. São seus parentes diretos: filhos e netos. As filhas que ocupam a unidade não foram relacionadas pela Prefeitura de São Paulo para remoção".
Segundo a companhia, a superlotação na unidade ocupada por 17 pessoas foi causada pela própria família, que está cadastrada como um núcleo composto por três pessoas. "Quando ocorreu a mudança para o conjunto habitacional, mais quatro famílias ocuparam a mesma unidade. São seus parentes diretos: filhos e netos. As filhas que ocupam a unidade não foram relacionadas pela Prefeitura de São Paulo para remoção".
Oliveira afirma, no entanto, que a transferência de todos foi tratada com a prefeitura com as próprias filhas dela. "É um jogo de empurra. Disseram que era provisório, que resolveriam em cinco dias e agora eles vêm me acusar de ter trazido todas essas famílias para cá. De ter jogado todo mundo aqui dentro", falou.
Sem direito a posse
É o caso de Lúcio Rogério da Silva Teixeira Rego, que também desocupou uma escola pública no Jardim Romano, por conta do início das aulas, e foi morar no apartamento do Morada das Flores. Ele reclama do descaso com as famílias e das condições impostas pela Secretaria Estadual de Habitação no contrato dos apartamentos.
Sem direito a posse
É o caso de Lúcio Rogério da Silva Teixeira Rego, que também desocupou uma escola pública no Jardim Romano, por conta do início das aulas, e foi morar no apartamento do Morada das Flores. Ele reclama do descaso com as famílias e das condições impostas pela Secretaria Estadual de Habitação no contrato dos apartamentos.
Segundo ele, uma das unidades do conjunto habitacional chegou a abrigar nove crianças e três adultos de famílias diferentes. “Eles [os governantes] não olham para os problemas sociais que foram criados no pós-enchente. Algumas pessoas desistiram e foram embora. Outras continuam aqui tentando conseguir o que nos foi prometido. Quando viemos para cá, nos disseram que era provisório, que a gente poderia voltar para São Paulo se quisesse. Hoje, dizem que não é nada disso”, contou.
O contrato recebido pelos moradores da CDHU oferece uma concessão onerosa de uso (espécie de aluguel para bem público) por doze meses improrrogáveis. O documento diz que a permissão de uso é “por tempo certo e determinado, não gerando aos permissionários qualquer direito, seja possessória ou dominal, podendo ser revogável a qualquer tempo pela CDHU”.
Procurada pela reportagem, a CDHU informou que no final de março as famílias foram convocadas a apresentar os documentos pessoais para a elaboração do contrato de financiamento do imóvel, com 300 meses para pagar. Quem não tem esses documentos, recebe um contrato de concessão onerosa de uso válido por 12 meses, que será substituído por contratos de compra do imóvel quando os documentos estiverem em ordem.
“Ou seja, tudo o que dissemos em São Paulo que não íamos aceitar, porque lá éramos donos das nossas casas. Queremos o contrato definitivo”, explicou Rego.
Procurada pela reportagem, a CDHU informou que no final de março as famílias foram convocadas a apresentar os documentos pessoais para a elaboração do contrato de financiamento do imóvel, com 300 meses para pagar. Quem não tem esses documentos, recebe um contrato de concessão onerosa de uso válido por 12 meses, que será substituído por contratos de compra do imóvel quando os documentos estiverem em ordem.
“Ou seja, tudo o que dissemos em São Paulo que não íamos aceitar, porque lá éramos donos das nossas casas. Queremos o contrato definitivo”, explicou Rego.
“São várias cláusulas que não garantem nada aos moradores”, completou Anderson José de Amorim Laureano, que também mora com a mulher e a filha no prédio. “E quando a gente vai reivindicar melhorias, somos classificados como sortudos, por estarmos nos apartamentos. Derrubaram nossas casas e querem colocar a gente na rua de novo”, disse.
O dinheiro não dá
Maria Cecília Olinto, que morava na Chácara Três Meninas e hoje vive em Itaquaquecetuba com dois filhos, também está insatisfeita e explica que o dinheiro que ganha não dá para manter o apartamento nas novas condições.
Maria Cecília Olinto, que morava na Chácara Três Meninas e hoje vive em Itaquaquecetuba com dois filhos, também está insatisfeita e explica que o dinheiro que ganha não dá para manter o apartamento nas novas condições.
Olinto recebe um benefício social de R$ 510 por ter um filho com síndrome de Down. Descontados os empréstimos que fez para a reforma da antiga casa, que foi destruída, atualmente ganha R$ 210. Ela teria que pagar cerca de R$ 65 de luz, R$ 70 da prestação do apartamento, R$ 38 do bujão de gás e mais a conta de água, que ainda não teve o valor determinado porque o condomínio tem uma dívida de R$ 5.000 com a Sabesp.
Os moradores que recebem apenas os R$ 300 do bolsa-aluguel da prefeitura enfrentam problemas parecidos. Basta uma conta rápida para perceber que o dinheiro que sobra não é suficiente para viver.
“Antes eu era cadastrada na tarifa social e pagava R$ 12 de luz. É muita diferença. Não tenho como pagar essas contas todas e sabiam disso quando me trouxeram para cá, sabiam da minha renda. Eu não enganei ninguém. Pelo contrário, perguntava quanto é que eu tinha que pagar antes de vir para cá, mas eles falavam para eu não me preocupar. Eu vim contrariada e já me arrependi, porque quando a gente chega aqui é que surgem as surpresas”, disse Olinto. “E aqui, não temos atendimento, assistência social ou jurídica. Estamos abandonados”, completou.
Nem a ausência de enchentes consola a dona de casa. “Eu morei mais de 12 anos ali [na Chácara Três Meninas] e não tinha a água [da enchente]. A água começou de uns tempos para cá. Eu não ia viver dentro da água suja esses anos todos, né? Mas ninguém faz nada”, afirmou.
A CDHU afirmou que vai entrar em contato com a prefeitura para esclarecer e tratar individualmente os casos da unidade habitacional ocupada por mais de uma família e das famílias com rendimentos inferiores aos necessários para o financiamento.
A CDHU afirmou que vai entrar em contato com a prefeitura para esclarecer e tratar individualmente os casos da unidade habitacional ocupada por mais de uma família e das famílias com rendimentos inferiores aos necessários para o financiamento.
Jardim Pantanal
Região faz parte da várzea do rio Tietê. Os moradores estão sem ver o chão há mais de 20 dias
Maria Paola de Salvo | 03/02/2010
Moradores do Jardim Pantanal
Agliberto Lima
Munida de galochas até os joelhos, cheguei, no último dia 22, à Chácara Três Meninas, um dos nove bairros do chamado Jardim Pantanal, área de várzea do Rio Tietê invadida no fim da década de 80, na Zona Leste. Durante dois dias, eu e o fotógrafo Agliberto Lima convivemos com algumas das cerca de 3 000 famílias que tiveram sua vida marcada pelo dia 8 de dezembro, data em que o Rio Tietê transbordou e desde então fez com que aquele pedaço da cidade lembrasse realmente o Pantanal Mato-Grossense. Dono de uma das dez casas que ocupam o final da Travessa Laranjeira, o aposentado Ailton Sena Lima me disse que nunca tinha visto nada parecido desde quando se instalou ali, há dezessete anos. Dia desses, ele chegou a pegar um peixe no quarto e a matar cobras na sala. A última vez em que viram o chão seco foi em 7 de janeiro. Quando eu estava lá, uma lâmina d’água escura e malcheirosa invadia as casas. Caminhar por entre as algas e a lama negra que se levantava a cada passo era tatear no escuro. Buracos nas calçadas ficavam imperceptíveis e representavam um convite a quedas.
Nessa terra submersa, quem tem sobrado é rei, e um deles aceitou me hospedar. Desempregado, Fabiano Soares dos Santos e a mulher, a auxiliar de enfermagem Elenilza, a Lena, me receberam com a abnegação com que costumam acudir os vizinhos na hora do aperto. Certa vez, contam que chegaram a abrigar dezoito pessoas nos quatro cômodos do 2º pavimento da casa onde fiquei. O 1º piso estava inteiramente alagado. Lá vi boiar roupas, talheres e colchões. Não sobrou nada. Nem mesmo o inquilino que morava ali. Ele abandonou o lugar, desfalcando em 250 reais a renda familiar mensal de 850 reais. “Perdi muita coisa, menos a esperança”, diz Lena, que me recebeu com pernil, farofa, frango assado, doce de leite e música sertaneja no último volume no aparelho de som. Como os dois, os outros moradores dali também estão escaldados. Acordam no meio da noite para ver o nível da água (medem-no olhando para lajotas e vasos de plantas) e correm a avisar uns aos outros. Disso depende a vida do casal Daniel e Carina Panochia, que dorme com o aguaceiro na metade do pé da cama e toma banho em cima de cadeiras. O Rio Tietê invadiu o quintal deles e as rachaduras começaram a pipocar nas paredes. Por causa disso, algumas famílias já mandaram os filhos pequenos para longe. Além das comportas pregadas na porta de entrada, há quem tenha improvisado pontes para se locomover entre os cômodos.Alguns equilibram eletrodomésticos sobre cadeiras e mesas. Outros saem de casa pelo telhado na tentativa de ir para o trabalho sem lama nos pés. Em vão. As ratazanas — vi duas nos dois dias que fiquei ali — já deixaram de assustar. Adultos e crianças circulam descalços e expostos ao risco de leptospirose, que já infectou três moradores na região.
Depois de um temporal que escureceu a tarde do sábado (23), Lena me convidou para a festa de casamento de um vizinho. Eu fui, com a imagem dos ratos ainda na cabeça e o pavor de que a água suja, já na altura das canelas, entrasse pelas frestas das botas. Sem poderem contar com a garagem do sobrado, que estava alagada, os noivos conseguiram a façanha de acomodar mais de sessenta convidados nos cinco cômodos do 2º piso. Lá pelas 23 horas, quando os pingos ficaram mais grossos, o casal sugeriu que voltássemos. A água havia subido um palmo em menos de duas horas.
Perto da meia-noite, a chuva apertou ainda mais e já alvejava com força o telhado de Brasilit da casa de Lena, que teve de espalhar cinco baldes pelo chão para conter as goteiras da cozinha. Outra gota teimava em pingar ao lado da minha cama. Fui me deitar apreensiva. Evangélica, minha anfitriã tentou me acalmar com uma versão própria de um salmo bíblico providencial para a situação: “Mesmo que as águas se levantem contra você, o Senhor fará com que você caminhe sobre elas”. No meio da madrugada, com o aguaceiro ainda mais forte, era eu que rezava para que a chuva desse uma trégua. De vez em quando, espiava os indicadores de nível. Já não se viam mais as lajotas no chão nem os vasos das plantas. Parecia que a cada hora aquela água imunda se aproximava mais da janela do sobrado. Assim como eu, Fabiano levantou-se várias vezes para examinar a situação. Preocupada, fiquei acordada até as 4 horas, quando, finalmente, a tempestade virou garoa, cinco horas depois de ter começado. Acordamos ilhados. A escada que levava até o sobrado parecia um píer. Mesmo sabendo que as galochas agora eram inúteis, calcei-as para sair dali, no domingo (24), com o lamaçal batendo nas coxas.
No fim da noite de terça (26), enquanto eu escrevia este texto e pensava em quais das muitas histórias deveria colocar no papel — elas caberiam em muitas páginas —, Lena me ligou. Desesperada, contou que a água já chegava ao pescoço. Até o fechamento da edição, apenas o casal que me abrigou e outras duas famílias ainda resistiam ali. Eles se recusam a aceitar o vale-aluguel de 1 800 reais por seis meses oferecido pela prefeitura e deixar o imóvel que jamais poderia ter sido erguido ali.
Após noite de caos, Jardim Pantanal volta a viver ameaça de enchentes e despejo
Iminência da abertura das comportas da barragem da Penha aumenta o risco de novas tragédias, como as ocorridas no verão passado, com aprovação da prefeitura
Publicado em 11/01/2011, 11:20
Última atualização às 15:42
Alagamento na avenida Zaki Narchi com Cruzeiro do Sul, zona norte da cidade. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)
São Paulo – Moradores do Jardim Pantanal, zona leste de São Paulo, ouvidos pela Rede Brasil Atual nesta terça-feira (11), temem a repetição das enchentes do ano passado, quando várias casas da região passaram semanas alagadas.
Isso porque as comportas da barragem da Penha podem ser totalmente abertas a qualquer momento, depois das fortes chuvas que caíram sobre a capital durante à noite, elevando ao máximo o nível das represas da bacia do Tietê.
"A noite foi terrível, muita água entrou nas casas, mas a situação pode ficar realmente feia. Agora parou de chover, mas o rio continua subindo. É sinal de que eles estão soltando a água (da barragem da Penha)", conta Zélia Andrade, uma das lideranças comunitárias do bairro, que inclui a Chácara 3 Meninas e o JardimRomano, todos fortemente afetados pelas inundações.
O problema, conta Zélia, é agravado pela exigência da prefeitura de que os moradores sejam transferidos para abrigos. Eles temem que suas casas sejam derrubadas durante a ausência, já que o bairro está nos planos de construção de um parque linear e é alvo de sucessivas ações para a retirada da população.
"Abrigo é ruim, fica longe da casa da gente, e já teve um coronel da polícia que disse que, se formos para as escolas, vamos ser tirados de lá com cacetete. E quando voltamos do abrigo, podemos encontrar a (nossa) casa já derrubada", prossegue Zélia.
Ainda segundo Zélia, a comunidade teme ser despejada à força de suas casas, para a construção do parque. Ela conta que a prefeitura já avisou que ainda em janeiro vai tentar fazer com que os moradores saiam voluntariamente, em troca da chamada bolsa-aluguel. "A polícia está dizendo pra gente que, se não sairmos por bem, vai ter confusão."
Procurada, o Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), órgão do governo paulista que administra a Bacia do Alto Tietê, não atendeu as ligações da reportagem da Rede Brasil Atual.
Caos e mortes
Até as 12h30 da terça-feira havia chegado a 13 o número de mortes causadas pelas fortes chuvas no estado de São Paulo. Só na região metropolitana foram seis mortes. Uma delas ocorreu na Avenida 9 de Julho, no centro da cidade, onde um pessoa foi arrastada pela enxurrada. A vítima chegou a ser socorrida na Santa Casa, mas não resistiu ao afogamento.
A Defesa Civil da cidade de São Paulo informou que 18 bairros estão em áreas consideradas em estado de atenção em razão de riscos de deslizamentos, afetando todas as regiões da capital paulista. Nesta manhã, de acordo com o Corpo de Bombeiros, a região metropolitana de São Paulo teve 61 pontos de alagamento e 12 desabamentos.
A Defesa Civil da cidade de São Paulo informou que 18 bairros estão em áreas consideradas em estado de atenção em razão de riscos de deslizamentos, afetando todas as regiões da capital paulista. Nesta manhã, de acordo com o Corpo de Bombeiros, a região metropolitana de São Paulo teve 61 pontos de alagamento e 12 desabamentos.
Outras cidades
Em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, cinco mulheres da mesma família foram soterradas após o deslizamento de uma residência. Os bombeiros resgataram o corpo de duas delas e as demais estavam desaparecidas. Duas pessoas foram socorridas no mesmo local.
Em Mauá, região do ABC paulista, as chuvas também causaram desmoronamentos. Três pessoas morreram soterradas enquanto outras duas foram resgatadas com ferimentos leves, informou o Corpo de Bombeiros.
O município turístico de Embu das Artes, na região metropolitana, registrou uma morte, e uma pessoa também morreu em Mogi das Cruzes, por afogamento.
Com informações da Agência Brasil e da Reuters
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